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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O nariz de Lúcia

O nariz de Lúcia

Dona Aranha Costureira tirou do armário de madrepérola o vestido feito de "cor do mar". A noiva, tonta de admiracão, teve de se sentar para não cair. "Que maravilha das maravilhas!", disse Lúcia, prestes a tornar-se princesa do Reino das Águas Claras. Peixes azuis, dourados, de todas as formas e cores nadavam na fazenda. Casar aos 7 anos com um príncipe escamado, debaixo d’água e tendo uma boneca de pano tagarela como dama de companhia, não é para qualquer uma. E não foi fácil celebrar a união com uma lista de convidados como a dela. Era sua segunda visita ao reino. Na primeira, o doutor Caramujo dera à boneca Emília as pilulas falantes - que fizeram dela uma grande "asneirenta". Dessa vez, a menina levou consigo também o primo da cidade, Pedrinho, o sábio Visconde de Sabugosa, feito de espiga de milho, e o Marquês de Rabicó, porquinho de gula incontrolável - comeu a coroa de rosquinha da noiva e quase estraga a festa. 

Lúcia e a turma viveram tantas aventuras quanto permitiu o faz de conta. Criada em 1920, em A Menina do Narizinho Arrebitado, ela ganhou um volume especial de suas peripécias em 1931. O apelido pegou, assim como o universo encantado do Sítio do Picapau Amarelo, criado pelo escritor Monteiro Lobato. Reinações de Narizinho traz 11 histórias, com começo, meio e fim, escolhidas dentro de algumas de suas favoritas publicadas até então. 

Reinações, como praticamente toda a obra de José Bento Monteiro Lobato, é um contraponto entre o arcaico e o moderno no Brasil da primeira metade do século 20. "No ambiente rural (o da infância do próprio autor numa Taubaté abandonada após o ciclo do café), vive Dona Benta, uma mulher extremamente culta, conhecedora da ciência e progressista", diz o historiador Raimundo Campos Bandeira, estudioso do trabalho do escritor. "Lobato dissecou a realidade brasileira."